terça-feira, 12 de julho de 2016

“Uma criança refugiada não se salva com comida, é preciso dar-lhe colo”



Depois de décadas a identificar as falhas no sistema de acolhimento de refugiados, como consultora do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados e em diversos organismos gregos, Lora Pappa percebeu que só tinha uma opção. “Começámos do zero, decidimos fazer o que ninguém estava a fazer”. Em 2010, fundou a ONG METAdrasi - Ação de Migração e Desenvolvimento - com o objetivo de colmatar lacunas ao nível do acolhimento e da integração de refugiados e imigrantes na Grécia. A intervenção da METAdrasi tem incidido sobretudo na disponibilização de serviços de interpretação a refugiados e migrantes que chegam à Grécia e na assistência a crianças desacompanhadas.

Hoje em dia, a METAdrasi é reconhecida pelos requerentes de asilo, refugiados e migrantes como o principal recurso para a interpretação comunitária na Grécia. Está também ativamente envolvida em múltiplas ações que dão resposta às necessidades dos grupos mais vulneráveis, como é o caso das crianças que chegam à Grécia desacompanhadas. Com o propósito de identificar soluções para os problemas que resultam da estadia prolongada desses menores em centros de detenção, ou pior ainda, nas ruas ou em zonas fronteiriças, protegendo-as contra potenciais riscos de exposição ao tráfico ou exploração de menores, a associação criou um conjunto de equipas de acompanhamento que procuram colocar as crianças em condições de segurança, e simultaneamente, tentam encontrar famílias de acolhimento. Beneficiaram deste apoio até à data mais de 3700 crianças.

“Quando uma criança sobreviveu à guerra e depois sobreviveu a um naufrágio, quando se perdeu dos pais e nem sabe se ainda tem família, tem de aparecer um adulto que perceba que tem de começar por lhe lembrar que é uma criança.”

“Muitas vezes elas não sabem que os pais morreram, só sabem que se perderam deles. 
É preciso dar-lhes tempo até poderem decidir por si próprias. Outras vezes viram os pais morrer, sabem que se afogaram. Mas para podermos avançar e requerer o asilo exigem-nos corpos e certificados de óbito… Como é que explica aos burocratas em Bruxelas que os corpos foram comidos pelos peixes? (…) O "monstro" da burocracia não se compadece com a realidade.”

“O que eu mais queria era que o nosso trabalho deixasse de ser necessário”, diz a ativista, que esteve em Lisboa no passado mês de junho, para receber o Prémio do Centro Norte-Sul do Conselho da Europa, que, desde há 21 anos, distingue anualmente  duas pessoas que promovem a solidariedade entre os hemisférios


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