domingo, 13 de novembro de 2016

Alfredo Bruto da Costa (1938-2016): o sonho de um mundo sem pobreza

 “Discordo da frase ‘não dês o peixe, dá a cana’. Se só deres o peixe, ele só comerá hoje. Se, além do peixe, deres a cana, ele comerá hoje e o resto da vida. Não vale de nada dar uma cana a alguém que está com tanta fome que não pode sequer levantar-se para chegar ao rio para pescar.” - Alfredo Bruto da Costa



Bruto da Costa, que dedicou a vida ao combate à pobreza, morreu na passada sexta-feira, com 78 anos. Doutorado em Sociologia, esteve à frente da Comissão Nacional de Justiça e Paz e ocupou vários cargos públicos. Realizou vários estudos e trabalhos sobre pobreza e exclusão social e fazia parte de um grupo de trabalho dinamizado pela EAPN-Rede Europeia Antipobreza/Portugal, que delineou um roteiro para uma Estratégia Nacional de Erradicação da Pobreza. 

Esta foi uma das suas últimas lutas. “Nós sabemos quem são os pobres em Portugal. O problema é termos procurado combater a pobreza sobretudo de forma pontual. Pontual e dispersa”, disse, na apresentação pública do roteiro, em Setembro de 2015 e desafiou a “um compromisso para uma estratégia nacional de combate à pobreza, que desse consistência a uma ação que visasse não apenas reduzir o sofrimento do pobre, o que é certamente necessário, mas também ajudá-lo a libertar-se da pobreza”.

“Que caminho tem seguido a política económica que leva a que existam 40% de pobres que têm trabalho? Ou decidimos que vamos crescer primeiro para distribuir depois, ou das várias maneiras de crescer escolhemos a que assegura o crescimento com uma melhor distribuição. Tem-se provado que a primeira não acontece. Há décadas que se espera o dia em que já crescemos o suficiente para distribuir.”

“Chamo pobreza a uma situação de privação por falta de recursos. Privação é alguém não ter as suas necessidades básicas satisfeitas, por não ter recursos ou por outras razões, por ser toxicómano, por exemplo, ou por não saber gerir os seus bens. Ora, as soluções para estes dois casos são completamente diferentes. Num, é preciso ajudar a pessoa a ter recursos, no outro, é preciso ajudar a gerir os recursos que tem. A privação precisa de uma resposta imediata. Não se pode dizer a uma pessoa que tem fome: “tire um curso de formação profissional, arranje um emprego e depois coma.”


“A pobreza só se resolve quando o pobre ganha autonomia. A pobreza é uma das formas de exclusão social, mas há outras: o isolamento pode afetar idosos ricos, excluídos da sociedade, não por falta de recursos. Não se encontram novas formas de pobreza, há novas formas de exclusão social: dos idosos, dos imigrantes, dos portadores de doenças psiquiátricas, onde se incluem os toxicodependentes, alcoólicos, doentes mentais e outros comportamentos destrutivos como a prostituição.”

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