sábado, 30 de dezembro de 2017

Quando as fronteiras se tornam muros





Hoje, o contexto de crise económica, infelizmente, favorece o emergir de comportamentos de hostilidade e de não acolhimento. Nalgumas partes do mundo erguem-se muros e barreiras. [...] Contudo o fecho não é uma solução, pelo contrário, acaba por favorecer os tráficos criminosos. A única solução é a solidariedade. Solidariedade com o migrante, solidariedade com o estrangeiro” - Papa Francisco

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Natal pós-capital?


Nestas festas natalícias, serão oferecidos smartphones para cães e impressoras 3D de panquecas que lhe permite comer, todas as manhãs, a Mona Lisa, o Taj Mahal ou o traseiro do seu cão. Por tralhas como essas estamos transformando em lixo o planeta vivo e as nossas próprias perspetivas de vida. Tudo isso precisa acabar. Há alternativa: uma vida privada frugal e bens comuns refinados. Quem se atreve?

A promessa de luxo privado para todos não pode ser cumprida: não existe nem espaço físico nem espaço ecológico para isso

Todo mundo quer tudo – como é que isso pode dar certo? A promessa do crescimento económico é de que os pobres poderão viver como ricos; e os ricos, como oligarcas. Mas nós já estamos atingindo os limites físicos do planeta que nos sustenta. Desastres climáticos, desertificação do solocolapso de habitats e espéciesmar de plástico: tudo  causado pelo excesso de consumo.

Mas o crescimento deve continuar: esse é o imperativo político em todos os lugares. E temos de ajustar os nossos gostos, em nome da autonomia e da escolha – o marketing usa as últimas descobertas da neurociência para destruir nossas defesas. Em cada geração, muda a referência do consumo normalizado. Há trinta anos, era ridículo comprar água em garrafa, pois a água de torneira é limpa e abundante. Hoje, no mundo todo, usamos um milhão de garrafas plásticas em cada minuto.

Quem se identifica como consumidor consciente usa mais energia e carbono do que quem não se assume como tal

A promessa é que, pelo consumismo verde, podemos reconciliar crescimento perpétuo com sobrevivência planetária. Mas uma série de pesquisas revela que não há diferença significativa entre as pegadas ecológicas de pessoas que cuidam e que não cuidam dos seus impactos. Quem se identifica como consumidor consciente usa mais energia e carbono do que quem não se assume como tal.  Porque a consciência ambiental tende a ser mais alta entre pessoas ricas. Não são as atitudes, mas o rendimento que determina nossos impactos no planeta. Quanto mais ricos, maior a nossa pegada, a despeito das nossas boas intenções. Aqueles que se vêem como consumidores verdes, dizem as pesquisas, “focam principalmente em comportamentos que têm benefícios relativamente pequenos”. Nada disso significa que não devemos tentar reduzir nossos impactos, mas precisamos ter consciência dos limites desse exercício. Nosso comportamento dentro do sistema não consegue mudar os resultados desse sistema. É o sistema que precisa de ser mudado.

Uma pesquisa da 
Oxfam sugere que o 1% mais rico produz 175 vezes mais carbono que os 10% mais pobres. Como podemos, num mundo em que supostamente todos aspiram a altos rendimentos, evitar transformar a Terra numa bola de sujeira, da qual depende toda a prosperidade?

Empresas e governos são todos procuradores do verdadeiro problema: crescimento perpétuo num planeta que não está crescendo

Aqueles que justificam esse sistema insistem em que o crescimento económico é essencial para o alívio da pobreza. Mas um artigo da World Economic Review afirma que os 60% mais pobres do mundo recebem apenas 5% do rendimento adicional gerado pelo aumento do PIB. Disso resulta que são precisos 111 dólares de crescimento para cada dólar de redução da pobreza. Essa é a razão por que, seguindo a tendência atual, seriam necessários 200 anos para garantir que todo o mundo receba 5 dólares por dia.
A essa altura, a renda média per capita terá alcançado 1 milhão de dólares por ano, e a economia será 175 vezes maior do que é hoje. Isso não é uma fórmula para alívio da pobreza. É uma fórmula para a destruição de tudo e de todos.

Consumismo verde, crescimento sustentável: isso tudo é ilusão, destinada a justificar um modelo económico que nos está conduzindo à catástrofe

Quando você ouve que alguma coisa faz sentido do ponto de vista económico, isso significa que é o oposto do senso comum. Aqueles homens e mulheres sensíveis que governam os tesouros e bancos centrais do mundo, que vêem como normal e necessário um crescimento indefinido do consumo, estão alucinados, esmagando as maravilhas do mundo vivo, destruindo a prosperidade das gerações futuras para sustentar um conjunto de números que têm uma relação cada vez menor com o bem-estar geral. O sistema atual, baseado em luxo privado e imundície pública, vai nos levar à miséria: sob esse modelo, luxo e privação são uma só besta com duas cabeças.

Necessitamos de um sistema diferente, enraizado não em abstrações económicas mas em realidades físicas, que estabeleça os parâmetros pelos quais nós possamos julgar da sua saúde. Necessitamos construir um mundo no qual o crescimento não seja um imperativo, um mundo de frugalidade privada e luxo público.

(O artigo é de George Monbiot, jornalista, escritor e ambientalista do Reino Unido, publicado por The Guardian.)

sábado, 9 de dezembro de 2017

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos


O Dia dos Direitos Humanos, lembrado a 10 de dezembro, marca a data em que, em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi proclamado pela Assembleia Geral da ONU.

Os direitos humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição.

A Declaração Universal chega aos seus 70 anos de existência num tempo de desafios crescentes. O ódio, a discriminação e a violência estão por todo o lado. Centenas de milhões de homens e mulheres estão privados das condições básicas de subsistência e de oportunidades. São chocantes as notícias sobre as novas formas de escravatura. As deslocações forçadas de muitos milhões de pessoas em todo o mundo geram violações dos direitos humanos numa escala sem precedentes. São visíveis os retrocessos de direitos humanos, incluindo os direitos das mulheres e de muitas minorias, nas Américas, na Ásia, na África e até na Europa. Estamos a testemunhar, em diversas partes do mundo, à destruição de medidas destinadas a acabar com a discriminação e a promoção duma maior justiça.

As Nações Unidas tem proclamado extensas listas de Direitos Humanos, mas a imensa maioria da humanidade não tem mais que os direitos de: ver, ouvir, calar. Que tal começarmos a exercer o jamais proclamado direito de sonhar?” – Eduardo Galeano



Declaração Universal dos Direitos Humanos

Artigo 1:Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.
Artigo 2: 1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. 2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.
Artigo 3:Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo 4: Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.
Artigo 5: Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.
Artigo 6: Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei.
Artigo 7:Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
Artigo 8:Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.
Artigo 9: Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Artigo 10: Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir seus direitos e deveres ou fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.
Artigo 11: 1.Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa. 2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte de que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.
Artigo 12: Ninguém será sujeito à interferência na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.
Artigo 13: 1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado. 2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio e a esse regressar.
Artigo 14: 1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países. 2. Esse direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
Artigo 15: 1. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.
Artigo 16: 1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.
2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes. 3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.
Artigo 17: 1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.
Artigo 18: Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em público ou em particular.
Artigo 19: Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; esse direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.
Artigo 20: 1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.
Artigo 21: 1. Todo ser humano tem o direito de tomar parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. 3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; essa vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.
Artigo 22: Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.
Artigo 23: 1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. 2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. 3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social. 4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses.
Artigo 24: Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.
Artigo 25: 1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde, bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis e direito à segurança em caso de desemprego, doença invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle. 2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.
Artigo 26: 1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. 2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do ser humano e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. 3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.
Artigo 27: 1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios. 2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor.
Artigo 28: Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.
Artigo 29: 1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível. 2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática. 3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
Artigo 30: Nenhuma disposição da presente Declaração poder ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.


sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Que fizemos do pássaro azul que nos transporta?


A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) acaba de publicar uma Nota, com “Um apelo face à seca que nos sufoca”. 

Tendo em conta que Portugal está, mais uma vez, em situação de seca extrema, “Temos de repensar e refazer o nosso estilo de vida: poupar, racionalizar e partilhar, reutilizar a água de que dispomos” – refere a Nota.

Será que estamos verdadeiramente conscientes de que não podemos adiar, mais uma vez, a tarefa para a qual todos somos convocados, sob pena de prejudicar gravemente o nosso futuro comum?


Um apelo face à seca que nos sufoca

A água, um bem precioso, está-se tornando raro à medida que continuam as agressões do ser humano a este bem comum. Também a “água viva” indica a nossa sede do transcendente que é também vital para renovar o sentido da nossa presença no mundo: a água da qual somos todos responsáveis e que é causa de divisão e de guerra na humanidade.

Num manifesto intitulado “Avisos dos Cientistas do Mundo à Humanidade”, cerca de 15.000 cientistas – homens e mulheres de mais de cem países – alertam, com “considerações academicamente sustentadas”, para aquilo que o Papa Francisco veementemente nos diz na Laudato Si’: a Terra e a Humanidade não suportarão, por muito mais tempo, o sofrimento que cada um e cada uma de nós lhes causamos.

“Que fizemos do pássaro azul que nos transporta?” é a interpelação que nos faz esse grupo de cientistas referindo o que há anos escreveu Tich Nhat Hanh, um monge budista vietnamita: a Terra é o «gigantesco pássaro que nos leva numa viajem extraordinária».

Já em 2008, um Relatório da Comissão Independente sobre a População e Qualidade de Vida publicado em diversas línguas, na secção intitulada “Respeitar os limites da capacidade de carga da Terra” sublinha “o caráter crucial da água tanto para a qualidade de vida como para a própria sobrevivência humana”, perguntando: “Terão o clima, os rios e oceanos de todo o mundo capacidade para enfrentarem, sem um colapso catastrófico, os padrões, presentes e futuros, de produção e consumo?

Estaremos a caminho de ultrapassar os limites da Natureza e, se assim for, que poderemos fazer para nos mantermos dentro deles?”. Passados quase 30 anos sobre estas interpelações constatamos que estes factos se estão a passar, e mais cedo do que alguma vez esperaríamos.

Somos água e não podemos sobreviver sem ela: 60% do nosso corpo é água (70% do nosso cérebro, 80% do nosso sangue); apenas 3% da água em todo o mundo é potável, menos de 1% é acessível para consumo; uma em 5 pessoas em todo o mundo não tem acesso a água potável. A UNICEF indica que uma criança morre todos os quinze segundos por doenças ligadas à água não potável. Há mais deslocados por causa da água contaminada do que populações que se deslocam por causa das guerras. Em média, cada português gasta por dia o dobro da quantidade máxima de água recomendada pelas Nações Unidas.

O nosso país está neste momento em situação de seca extrema em grande parte do seu território, uma seca sufocante e maligna, que está e continuará a ter repercussões irreversíveis. Seremos apenas, e mais uma vez, vítimas de um problema mundial ou podemos lançar uma interpelação entre nós todos e a cada um: “Que fizemos da água de que precisamos para, simplesmente, podermos sobreviver?” A Comissão Nacional Justiça e Paz propõe que a questão seja colocada no presente: Que queremos fazer com a água que é nosso bem comum? Governo, responsáveis autárquicos e especialistas nesta matéria têm o diagnóstico feito. Algumas medidas “de recurso” têm sido tomadas. A sociedade civil está alertada para o facto de que temos de repensar e refazer o nosso estilo de vida: poupar, racionalizar e partilhar, reutilizar a água de que dispomos. Um alerta tão veemente pressupõe uma mudança da nossa mentalidade consumista, imediatista e de desperdício, de horizontes estreitos, irresponsável e narcísica.

Precisamos de “um olhar global” mas simultaneamente de um “agir local”, aqui e agora, nas nossas casas, nas escolas, nas comunidades e suas instituições. Precisamos de uma pedagogia [de utilização] da água! Enquanto cidadãs e cidadãos - incluindo crianças, jovens, idosos, nas cidades ou em zonas rurais, em empresas ou em instituições de solidariedade – tomemos em nossos ombros e em conjunto esta urgência, respondendo-lhe com um projeto de cidadania. Reeduquemo-nos uns aos outros porque todos temos iguais responsabilidades, embora seja certo que muitos estão a sofrer mais do que outros. “Todos somos pobres!” afirmou o Papa Francisco há dias.

A CNJP reconhece os gestos de solidariedade – individual e coletiva – perante os desastres ambientais que nos assolam. Mas vem, simultaneamente, interpelar novamente os cristãos e a sociedade civil: que a Água que nos dá a Vida, humana e espiritualmente, seja por todos nós considerada – mulheres e homens de boa vontade - um bem da Criação que nos foi confiado, limitado e escasso, é certo, mas a que todos sem exceção temos direito.

Que tenhamos Vida para Todos, e uma Vida em Solidária Abundância!


quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Cientistas do Mundo alertam a Humanidade: Um Segundo Aviso


Cerca de 15 mil cientistas de 184 países, entre os quais mais de 200 portugueses, publicaram um artigo na revista BioScience para nos avisar que estão em curso danos ambientais “irreversíveis” e “substanciais” na Terra. Algumas das principais destruições (muitas provocadas por nós) são a crescente extinção de espécies, a desflorestação, o aumento da temperatura e das emissões de dióxido de carbono (CO2).

Este já é o segundo alerta do género feito pelos cientistas à humanidade. O primeiro foi feito em 1992. Mais de 1700 cientistas de todo o mundo (muitos deles premiados com o Nobel) assinavam um artigo com o título “Alerta dos Cientistas do Mundo à Humanidade”.

Os seres humanos e o mundo natural estão em colisão. As atividades humanas causam danos severos e, por vezes, irreversíveis no ambiente e nos recursos”, lê-se logo no início do artigo. Depois, os cientistas enumeraram uma série de danos, nomeadamente na camada de ozono, nos recursos hídricos, nas zonas costeiras, no solo, assim como a perda de espécies ou o rápido crescimento da população mundial. Também sugeriam passos a seguir, como a estabilização da população ou o controlo das atividades mais prejudiciais para o ambiente. Pediam ainda que os países desenvolvidos agissem com urgência e reduzissem o seu “superconsumo”.

Agora, há um novo aviso à humanidade, com mais cientistas e também dados mais preocupantes.

E qual foi a evolução desde 1992? Houve uma redução de 26% na quantidade de água doce disponível per capita; uma queda na captura de peixe selvagem, apesar do crescimento do esforço de pesca; um aumento de 75% do número de zonas mortas nos oceanos; uma perda de 121 milhões de hectares de floresta, muitos convertidos para a agricultura; um aumento contínuo e significativo nas emissões globais de CO2 e nas temperaturas médias do planeta; um aumento de 35% da população humana; e uma redução de 29% nos mamíferos, répteis, anfíbios, aves e peixes. “Além disso, desencadeámos uma extinção em massa, a sexta em cerca de 540 milhões de anos, em que muitas formas de vida atuais podem ser aniquiladas ou condenadas à extinção até ao final do século”, assinala-se.

Em 2017 haverá um aumento de cerca de 2% das emissões. Ou seja, das 36,2 gigatoneladas de CO2 emitidas em 2016 passámos para 36,8 em 2017. A China é um dos principais responsáveis por estas emissões. “Algumas pessoas têm tentado descartar estas provas e pensam que estamos a ser alarmistas” mas “o que os cientistas fazem é analisar os dados e olhar as consequências a longo prazo. Quem assinou este segundo aviso não está a levantar um falso alarme. Está a reconhecer os sinais óbvios de que estamos a ir num caminho insustentável.” – referem os cientistas.

E terminam assim o seu aviso: “Para evitar a miséria generalizada e a perda catastrófica de biodiversidade, a humanidade deve adotar práticas ambientalmente mais sustentáveis e alternativas em relação às práticas atuais. Esses preceitos foram bem formulados pela liderança científica mundial há 25 anos, mas, na maioria dos aspetos, não acatamos a sua advertência. Logo será tarde demais para mudar o curso da nossa trajetória de fracasso e o tempo está se esgotando. Devemos reconhecer, na nossa vida quotidiana e nas nossas instituições de governo, que a Terra, com toda a sua vida, é o nosso único lar.”

O Documento pode ser lido AQUI

Entrevista com Cristina Branquinho, professora da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e signatária do documento LER AQUI



domingo, 26 de novembro de 2017

Manifesto dos Pobres

Por favor, não nos “roubem a esperança”: a esperança num futuro melhor, com mais justiça e solidariedade, num mundo mais unido, pacífico e fraterno. A esperança de que acabem todos os preconceitos e discriminações, que haja emprego para quem precisa, que sejamos bons uns para os outros, que a compreensão seja a base das nossas relações humanas, que haja oportunidades para todas e todos os que as procuram.
 
Estes são os nossos desejos, de pessoas atingidas pela marginalidade a que nos votam tantos e tantas, com os seus gestos, atitudes e modos de vida.
 
Mas não deveria ser assim. Não tem de ser assim. Gostaríamos que essas pessoas se sentissem mais nossos irmãos e irmãs.
 
Estamos gratos ao Papa Francisco por ter instituído este Dia Mundial dos Pobres. E agradecemos o seu pedido de perdão que ele nos dirigiu, há um ano, no encontro que teve connosco, em Roma, e reiterou esta semana, quando disse que muitas vezes nem sequer se olha para nós.
 
Concordamos com o Papa Francisco que é difícil identificar claramente a pobreza. Muitas vezes, nós somos reduzidos a números e estatísticas. Mas nós temos nome, rosto, vidas e anseios como toda a gente.
 
Queremos que nos estendam a mão, que nos abracem, que nos ajudem a romper o círculo da solidão em que nos enredaram.
 
Não gostaríamos de receber apenas uma esmola de vez em quando. Sem dúvida que ela, mesmo não resolvendo o problema, ajuda-nos a mitigar a fome. Mas gostávamos também que a dessem olhando-nos nos olhos. Que nos perguntassem porque sofremos e o que nos dói, que quisessem mesmo encontrar-se connosco.
 
Somos pessoas marcadas pelo sofrimento, pela marginalização, pela opressão, pela violência, pela privação da liberdade e da dignidade, pela ignorância e pelo analfabetismo, pela falta de trabalho e de cuidados de saúde, pelo tráfico e pela escravidão, pelo exílio e a miséria, pela migração forçada.
 
Somos mulheres, homens e crianças que, como diz o Papa, são “explorados por vis interesses, espezinhados pelas lógicas perversas do poder e do dinheiro.”
 
Vivemos nesta condição, porque nem sempre temos capacidade de aproveitar as oportunidades que nos são proporcionadas, nem tivemos, na altura certa, quem nos ajudasse a alcançá-las. Mas também somos vítimas da riqueza descarada que se “acumula nas mãos de poucos privilegiados, frequentemente acompanhada pela ilegalidade e a exploração ofensiva da dignidade humana”, como também diz o Papa.
 
Por isso, ajudem-nos a acreditarmos em nós para que não fiquemos inertes ou resignados e resignadas. Para que a pobreza não iniba o espírito de iniciativa dos mais jovens de nós, quando procuram trabalho, nem nos deixe anestesiados – a nós, os que sofremos, e a todos os que, com a sua inércia, nos fazem sofrer.
 
Queremos que todos lutem por uma nova visão da vida e da sociedade. Não queremos servir apenas para campanhas eleitorais de quem nos esquece no dia a seguir. Não queremos servir apenas para confortar consciências e ser objeto de orações que, como diz o Papa, correm o risco de ser palavras vazias que não transformam as nossas vidas.
 
Mas queremos, sobretudo, que ponham em prática novas formas de vida, na economia e na política, que acabem com a nossa pobreza e a nossa marginalidade.
 
Queremos que este primeiro Dia Mundial dos Pobres seja uma oportunidade para o compromisso sério de todos em ordem à mudança da história, gerando verdadeiro desenvolvimento, escutando o grito de todos os marginalizados para os reerguer desse estado.

(Divulgado no passado domingo, aquando da celebração do 1º Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo Papa Francisco)


quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Os pobres de Pai Américo

A propósito do Dia Mundial dos Pobres que se celebra a 19 de Novembro, o Grupo Justiça e Paz da Comunidade Cristã da Serra do Pilar promove um encontro de reflexão e debate sob o lema

Os "Pobres" de "Pai Américo"
problemas e soluções



Quem eram os "pobres" de quem Pai Américo foi
"Apóstolo e Evangelizador"?
Que desafios o seu olhar e acção nos coloca ainda hoje?


Uma conversa inspirada no pensar e no agir desta figura do cristianismo português do
século XX orientada por
Luís Leal

Luís Leal é membro da Comunidade da Serra do Pilar, ex-aluno e discípulo do Presbítero Arlindo de Magalhães, concluiu, neste ano de 2017, o seu Doutoramento em História Contemporânea pela Universidade do Porto com tese sobre o "pensamento teológico" e a "acção social" de Padre Américo Monteiro de Aguiar, fundador da "Obra da Rua - Casa do Gaiato". Entre outras responsabilidades pastorais (nas 3 Paróquias do "Vale de Campanhã" e na Pastoral da Juventude da nossa Diocese), é Assistente de Investigação no Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa. 


dia 17 Novembro – 21,30h

Rua Marciano Azuaga, 82 V. N. Gaia

(no antigo Centro de Convívio)


quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Por um mundo livre das armas nucleares

O prémio Nobel da Paz 2017 foi atribuído, no passado mês de outubro, a Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (ICAN, na sigla original).


A ICAN é uma coligação internacional que reúne centenas de organizações humanitárias, ambientais, de direitos humanos, pacifistas e de apoio ao desenvolvimento, de cerca de 100 países, e trabalha ativamente há mais de 10 anos na tentativa da proibição e eliminação das armas nucleares, alertando para as consequências humanitárias catastróficas que o seu uso provocará.

"A organização recebe esta distinção pelo seu trabalho na sensibilização para as consequências humanitárias catastróficas de qualquer uso de armas nucleares e pelos seus esforços revolucionários para promover uma proibição de tais armas por tratado”, declarou o Comité Nobel norueguês, que considera que “o risco das armas nucleares serem usadas é maior do que alguma vez foi em muito tempo.

Isso mesmo disse a própria ICAN, depois de saber que tinha sido agraciada com o Nobel da Paz. “Este é um momento de grande tensão global, em que a retórica agressiva pode facilmente levar-nos a todos, de forma inexorável, ao horror indescritível. O fantasma do conflito nuclear assombra-nos mais uma vez.

Opinião semelhante tem John Carlson, especialista em desarmamento nuclear:  “Desde o fim da Guerra Fria, a maioria das pessoas pensa que o risco de uma guerra nuclear acabou. Agora estamos perante uma situação perigosa em que Estados com armamento nuclear olham para estas armas como se fossem só mais uma de várias opções militares."

Em julho deste ano, a ICAN foi responsável pela criação de um tratado (apoiado pelas Nações Unidas) que proíbe a utilização de armamento nuclear - O Tratado para a Proibição das Armas Nucleares - o primeiro instrumento obrigatório para o desarmamento nuclear, requer que todos os países que o ratifiquem se abstenham de desenvolver, testar, produzir, construir, adquirir, possuir ou armazenar armas nucleares em quaisquer circunstâncias.

O Tratado, aprovado por 122 países, teve a oposição das nove potências nucleares Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, Israel, China, Índia, Paquistão e Coreia do Nortee da maioria dos países da NATO, incluindo Portugal.

O tratado proíbe categoricamente as piores armas de destruição em massa e estabelece um caminho claro para sua eliminação total. É uma resposta à preocupação cada vez maior da comunidade internacional de que qualquer uso de armas nucleares causaria danos catastróficos, generalizados e duradouros às pessoas e ao nosso planeta.

Desde 20 de Setembro, já cerca de 50 países, entre eles o Vaticano, assinaram o tratado.


É um evento histórico, apesar da recusa das potências nucleares de aderir a ele…Quando o tratado entrar em vigor (depois de 50 países o terem ratificado), será mais difícil para os países que possuem armas nucleares, sendo eles ou não parte do Tratado de Não-Proliferação, continuarem a afirmar que têm armas nucleares legitimamente para a proteção da sua segurança e dos seus aliados", refere Marc Funaud, principal assessor do Programa de Desafios Emergentes de Segurança e Grupo de Proliferação de Armas do Centro de Genebra para a Política de Segurança.

Sobre esta matéria, a Santa Sé organiza no Vaticano, nos dias 10 e 11 de novembro, um congresso internacional intitulado “Perspetivas para um mundo livre das armas nucleares e para um desarmamento integral” com representantes da ONUda NATO e onze prémios Nobel da Paz

Se forem levadas em consideração as principais ameaças à paz e à segurança neste mundo multipolar do século XXI, como o terrorismo, os conflitos assimétricos, as problemáticas ambientais, a pobreza, surgem muitas dúvidas sobre a inadequação da dissuasão nuclear para responder efetivamente a tais desafios”, escreveu o Papa Francisco. “As preocupações aumentam quando consideramos as catastróficas consequências humanitárias e ambientais que derivam de qualquer utilização das armas nucleares com devastadores efeitos indiscriminados e incontroláveis no tempo e no espaço, sem falar no desperdício de recursos para a energia nuclear para fins militares, que, ao contrário, poderiam ser utilizadas para prioridades mais significativas, como a promoção da paz e do desenvolvimento humano. O objetivo final da eliminação total das armas nucleares torna-se tanto um desafio quanto um imperativo moral e humanitário”.

Entre nós, o Conselho Português para a Paz e Cooperação lançou uma petição com o objetivo de pressionar as autoridades portuguesas a assinar e ratificar o Tratado de Proibição das Armas Nucleares.

“Não é possível vencer uma guerra nuclear” - diz Beatrice Fihn, diretora-executiva da Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares e Prémio Nobel da Paz.
Ver entrevista AQUI


quarta-feira, 25 de outubro de 2017

As causas estruturais da pobreza



Será que apenas poderemos combater a pobreza com atividades de assistência?
E se procurássemos conhecer e atacar as causas estruturais que lhe dão origem?

Vamos conversar sobre isso com: 
Américo Mendes

Economista, professor da Universidade Católica onde é coordenador da Área Transversal da Economia Social dirigente e voluntário em organizações de economia social

Dia 27 de outubro às 21.30h 

Rua Marciano Azuaga, 82  V.N. Gaia
(antigo Centro de Convívio da Serra do Pilar)

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza

A miséria não é uma fatalidade, tem causas que devem ser reconhecidas e removidas


O Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza foi instituído pelas Nações Unidas para consciencializar sobre a necessidade de erradicar a pobreza e a miséria em todo o mundo.

A ONU oficializou esta data em 1992, mas a sua origem remonta a 17 de outubro 1987, quando cem mil pessoas, guiadas pelo Padre Joseph Wresinski, se reuniram no Trocadéro, em Paris, onde foi assinada a Declaração dos Direitos do Homem, para defender os direitos humanos de cada país, condição e origem.

O Padre Wresinski sintetizou o sentido desta data com estas palavras: “Onde os homens são condenados a viver na miséria, os direitos do homem são violados. Unir-se para que sejam respeitados é um dever sagrado”.

A erradicação da pobreza e da fome é um dos oito objetivos de desenvolvimento do milénio, definidos no ano 2000 por 193 países membros das Nações Unidas e por várias organizações internacionais.

 “Ouçamos o grito de tantos irmãos nossos marginalizados e excluídos: ‘Tenho fome, sou estrangeiro, estou nu, doente, recluso num campo de refugiados. É um pedido de justiça, não uma súplica ou um apelo de emergência. É necessário que a todos os níveis se dialogue de maneira ampla e sincera, para que sejam encontradas as melhores soluções e se amadureça uma nova relação entre os diversos atores do cenário internacional, caracterizada pela responsabilidade recíproca, a solidariedade e a comunhão. O jugo da miséria gerado pelos deslocamentos muitas vezes trágicos dos emigrantes pode ser eliminado mediante uma prevenção consistente em projetos de desenvolvimento que criem trabalho e capacidade de resposta às crises ambientais. É verdade, a prevenção custa muito menos que os efeitos provocados pela degradação das terras ou a contaminação das águas, flagelos que açoitam as principais regiões do planeta, onde a pobreza é a única lei, as doenças aumentam e a expectativa de vida diminui” – do discurso do Papa Francisco na Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.


Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística referem que, em 2016, havia 2595 milhões de portugueses (25,1%) em risco de pobreza ou exclusão social. Uma em cada quatro pessoas estava em risco de pobreza e exclusão social.

Em comunicado para este dia, a Cáritas Portuguesa refere: “Que temos feito para a erradicação da pobreza, de maneira sistemática e radical? Limitamo-nos a chamar a atenção para duas lacunas graves, entre outras, que parecem invencíveis: a recusa de conhecimento corresponsável da pobreza no país, e ausência de atuação sistemática nas suas causas. Em mais de dois mil anos de existência do cristianismo, que tem no seu centro o tema dos pobres, vemos que as instituições e comunidades cristãs procedem como se não conhecessem os pobres existentes em cada localidade e no país: não procedem ao conhecimento estatístico, resultante do contato direto de proximidade e ajuda; não refletem regularmente sobre este assunto, visando soluções assistenciais e estruturais; e não assumem compromissos que visem não só o atendimento de cada pessoa pobre mas também a erradicação gradual e sistemática da pobreza.”

Organizações do setor social reconhecem que "melhorou uma coisa aqui, ou acolá, houve quem conseguisse empregar-se, mas são empregos tão inseguros e mal pagos que não dá para sair da pobreza. Ainda há pessoas em Portugal que só comem uma vez por dia. Enquanto as respostas não atingirem as causas geradoras, a pobreza pode ser minorada, mas não erradicada, porque a estrutura que a alimenta e produz mantém-se igual".


domingo, 15 de outubro de 2017

DIA MUNDIAL DA ALIMENTAÇÃO




O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU número dois diz: “Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável”.

Há poucos dias, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) constatava que a fome no mundo voltou a crescer depois de anos em constante queda. São 38 milhões de pessoas a mais, num total de 815 milhões. O crescimento desse índice pode estar associado às migrações que muitas vezes obrigam as pessoas a fugirem de seus países.

Um mundo mais justo, solidário e generoso é um mundo com segurança alimentar e que trate todos de forma igual.

Anualmente, no dia 16 de outubro, celebra-se o Dia Mundial da Alimentação. Neste ano, o tema proposto pela FAO é “Mude o futuro da migração. Investir na segurança alimentar e no desenvolvimento rural.” 


O mundo está em constante movimento. Hoje e devido ao aumento de conflitos e instabilidade política, foram forçadas a fugir de suas casas mais pessoas do que em qualquer momento desde a Segunda Guerra Mundial. No entanto, a fome, a pobreza e um aumento de eventos climáticos extremos relacionados com as mudanças climáticas são outros fatores importantes que contribuem para o desafio da migração.

Grandes movimentos de população representam, hoje, desafios complexos que requerem uma ação global. Muitos migrantes chegam a países em desenvolvimento, criando tensões onde os recursos já são escassos, mas a maioria, cerca de 763 milhões, estão em movimento dentro do seu próprio país.

Três quartos das pessoas em situação de extrema pobreza baseiam a sua subsistência na agricultura e outras atividades rurais. Criar condições que permitam, especialmente aos jovens, ficar em casa com segurança e meios de vida mais resistentes, é um componente crucial de qualquer plano para resolver o problema da imigração.



Segundo a FAO, cerca de um terço de toda a comida produzida no mundo é desperdiçada. A quantidade deitada fora seria suficiente para alimentar todas as pessoas que passam fome.

A cadeia alimentar da União Europeia regista um desperdício anual de cerca de 88 milhões de toneladas e desde a produção agrícola até ao consumidor final as perdas atingem os 30%.

Em Portugal, desperdiça-se qualquer coisa como um milhão de toneladas de alimentos por ano, sendo que 332 mil quilos têm origem nas casas dos consumidores — ou seja, 17% do que é produzido acaba no lixo.