segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Dia da Sobrecarga da Terra

No passado dia 2 de agosto, atingimos o dia da Sobrecarga da Terra.



O que é que isso quer dizer?

Quer dizer que, até esse dia, gastamos todos os recursos naturais básicos para sustentar a vida que o nosso planeta consegue repôr durante um ano. A partir desse dia estamos a gastar a crédito.

Todos os anos é apresentada uma estimativa sobre o dia em que a Humanidade atinge o limite do uso sustentável de recursos naturais disponíveis para esse ano, ou seja, o orçamento natural, habitualmente designado como Overshoot Day. Os valores utilizados para  calcular o Dia da Sobrecarga da Terra são obtidos a partir da comparação do consumo total da humanidade por ano (pegada ecológica) com a capacidade da Terra em regenerar os recursos naturais renováveis por ano (biocapacidade). Para este cálculo, são usadas estatísticas das Nações Unidas.

Em quase 50 anos de cálculos, 2017 é o ano em que este dia chega mais cedo. Em 2016, foi a 8 de agosto. No ano anterior, a 13, em 2014, a 19 e em 2013, a 20 de agosto.

Um dado assustador é comparar com décadas passadas. Em 1971, foi no dia 21 de dezembro. Desde então, todos os anos, ela chega antes. Ou seja, a cada ano que passa, todos nós – os seres humanos – estamos explorando os recursos naturais do planeta com mais voracidade e sem dar tempo para a Terra os recompôr.



“Estávamos no verde e agora entramos no vermelho ou no cheque especial. O que gastaremos daqui para frente será violentamente arrancado da Terra para atendermos as indispensáveis demandas humanas e, o que é pior, manter o nível de consumo perdulário dos países ricos.
A esse fato se costuma chamar de “Pegada Ecológica da Terra”. Por ela, se mede a quantidade de terra fértil e de mar necessários para gerar os meios de vida indispensáveis como água, grãos, carnes, peixes, fibras, madeira, energia renovável e outros mais. Dispomos de 12 bilhões de hectares de terra fértil (florestas, pastagens, cultivos) mas, na verdade, precisaríamos de 20 bilhões.
Como cobrir este défice de 8 bilhões? Sugando mais e mais a Terra….mas até quando? Estamos lentamente descapitalizando a Mãe Terra. Não sabemos quando acontecerá o seu colapso. Mas a continuar com o nível de consumo e desperdício dos países opulentos, ele virá com consequências nefastas para todos.
(…) Essa Sobrecarga Ecológica é um empréstimo que estamos tomando das gerações futuras para o nosso uso e desfrute atual. E quando chegar a vez deles, em que condições vão satisfazer as suas necessidades de alimento, água, fibras, grãos, carnes e madeira? Poderão herdar um planeta depauperado.
(…) O que vigora no mundo é uma perversa injustiça social, cruel e desapiedada: 15% dos que vivem nas regiões opulentas do Norte do planeta dispõe de 75% dos bens e serviços naturais e 40% da terra fértil. Alguns milhões, quais cães famélicos, devem esperar as migalhas que caem de suas bem servidas mesas..
Na verdade, a “Sobrecarga da Terra” resulta do tipo de economia delapidadora das “bondades da natureza” como falam os andinos, desflorestando, poluindo águas e solos, empobrecendo ecossistemas e erodindo a biodiversidade. Esses efeitos são considerados “externalidades” que não afetam o lucro e não entram na contabilidade empresarial. Mas afetam a vida presente e futura.” – assim escreve Leonard Boff (ver crónica na integra AQUI)


Segundo a Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, Portugal contribuiu ativamente para esta situação. Se todos os países tivessem a mesma pegada ecológica que nós, seriam necessários 2,3 planetas.O consumo de alimentos  (32% da pegada global do país) e a mobilidade (18%) encontram-se entre as atividades humanas diárias que mais contribuem para a pegada ecológica de Portugal e constituem assim pontos críticos a necessitar de intervenção.

Num mundo onde persiste uma enorme desigualdade em termos de distribuição de rendimentos e acesso a recursos naturais, estes dados são claros sobre a necessidade de se produzir e consumir de forma muito diferente.

O Planeta é a fonte de tudo o que necessitamos para viver enquanto espécie. O Overshoot Day indica-nos que estamos a forçar os limites do planeta cada vez com maior intensidade, uma tendência que é urgente mudar para bem da Humanidade e da sua qualidade de vida.

É urgente alterar esta tendência insustentável.

Propostas da ZERO para reduzir o défice ambiental podem ser lidas AQUI   


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